Lygia
Cabus
A Estrela Some
por Ernesto Ribeiro
Lygia Cabus é jornalista, webmaster do site de notícias esotéricas mais acessado do mundo.
Mas o principal é:
Lygia
Cabus foi uma estrela do teatro e do rock baiano nos anos 80 e 90
Atriz de peças
adultas de autores como Jean-Paul Sartre e Paulo Pontes, dirigida por Eduardo
Cabus e outros dramaturgos de renome. Trabalhando na Europa, a companhia de
teatro Cabus foi a Portugal, onde ela apresentou-se nos palcos de Lisboa. Atuou
em Huis Clos (o texto mais poderoso
de Sartre, com o aforisma eterno de que "O Inferno São os Outros") no
papel que foi de Cacilda Becker e depois como o papel masculino que fez as
platéias chorarem com tal atuação trágica. Isso numa montagem ousada de Entre
Quatro Paredes, com ambientação e trilha sonora dark punk dos Sex
Pistols, Joy Division, David Bowie, Stooges e outros, fazendo jus á visão
dilacerante do existencialismo francês.
Em 1988, acumulou o cargo de autora de peças teatrais, brilhando no
Teatro Gamboa como a jóia da elite cultural da metrópole.
Em 1989, tornou-se
cantora de rock n roll na primeira formação da Treblinka, iniciando sua
parceria com o gênio compositor e muti-instrumentista Sergio Belov. No mesmo
ano, participaram da coletânea em vinil Rock
Conexão Bahia. As canções "Vida em Carne Viva" e "A Queda de Sodoma" ficaram entre as
mais tocadas nas FMs.
Em 1990, Lygia Cabus
e Sergio Belov formaram o THC — Típicos Habitantes da Cidade, a grande
banda de rock perfeccionista que Salvador já conheceu. Em letras profundas e poéticas,
filosóficas e existencialistas, eles casaram a sofisticação intelectual com o
apelo pop e a força do rock em arranjos musicais elegantes. O sucesso foi tão estrondoso que culminou nos inesquecíveis shows no Rio
Vermelho na casa de espetáculos Off The Wall e no grande Teatro Gamboa, com
todas as lotações esgotadas e filas dando voltas no quarteirão com mais gente
querendo entrar.
As ligações telefônicas diárias da
imprensa com convites de programas de TV e rádio, e a exposição constante nos
jornais e revistas marcou o nome de Lygia Cabus ao mesmo tempo nas páginas dos
cadernos culturais, de música e teatro, como jurada de programas de auditório
na TV e também como personalidade nas colunas sociais.
Durante anos,
ela foi a musa inspiradora absoluta do lendário colunista Béu Machado, que a
defendia com entusiasmo contra os ataques da invejosa editora do Caderno
Cultural.
Infelizmente, nesse
nível intermediário de sucesso, os artistas ainda não contavam com nenhum agente ou empresário para administrar a situação e gerir os negócios, para se poupar do
desgaste de serem assediados em suas vidas pessoais, corroendo as relações
entre os músicos e expandindo o sofrimento para suas famílias. Para completar,
as intrigas internas, ambições desmedidas e ciúmes por parte da namorada de
Belov levaram ao fim da banda.
Em 1993, já sem Sergio,
Lygia formou a banda Blue Velvet, com uma proposta de back to basics em termos de rock n roll
mais pesado, cru e brutal. O grupo atuou firme por 7 anos, priorizando apenas
as performances ao vivo, sem gravações e sem concessões. Em um show
histórico que foi matéria de reportagem no jornal, um metaleiro ajoelhou-se e
beijou a bota de Lygia Cabus.
Finalmente, em 2000, quando a cena do rock baiano recebeu o beijo da
morte do Papai-Estado e a extrema-unção da Mamãe-Secretaria da Cultura, diante
do quadro de absoluta FALÊNCIA do circuito cultural baiano (e brasileiro), ela
usou de sua proverbial força de vontade e auto-disciplina para uma mudança de
rumos ao abraçar outra carreira que a deixasse fora do radar da imprensa.
Lygia Cabus conheceu toda a
pressão do sucesso e do assédio permanente da mídia e do público ao administrar
duas carreiras simultaneamente, no teatro e na música. Por isso mesmo tomou a
decisão corajosa e ponderada de abandonar o show
business. Pois faz questão de lembrar que “todas as
artes são marciais.” Ela sabe
tudo sobre as armadilhas dessa terra movediça. E aprendeu a nadar com os
tubarões.
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